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O chamado “dinheiro de plástico” facilita a vida de muitos. Contudo, um alerta: o limite do cartão de crédito serve de desculpa para milhões de consumidores endividados. “Comprei por impulso”. “Não resisti”. “Não fiz a conta direito”. O problema é que a “bomba financeira” torna cada vez maior a fila de brasileiros na lista dos devedores. Portanto, cartão de crédito pode ser usado, porém, se você é consumista, não tem planejamento financeiro e não controla suas despesas em relação ao ganho mensal, a orientação de todo especialista é uma só: caia fora dessa armadilha.
E, para abordar sobre os “perigos” no uso descontrolado do cartão na vida dos consumidores, é preciso começar pelo óbvio. Entenda, “limite” de cartão de crédito é empréstimo. E se é dinheiro que não é seu, evidentemente que o banco que lhe oferece com tanta facilidade vai cobrar caro por isso. E cobra muito, muito caro. É escorchante, escandalosa a taxa de juros cobrada pelos bancos para os “empréstimos” que você faz ao usar o limite no cartão de crédito.
Assim, se você não tem educação financeira e é completamente desorganizado com suas finanças, caia fora de usar o crédito do cartão. A dica simples é: só gaste a quantia que você tem para pagar no mês.
E cuidado com o conselho também do “amigo de todas as horas”, mesmo da família. “Fica calmo, você usou o limite porque foi uma emergência. Você não pagou a fatura do cartão, mas tenha calma que tudo se resolve”. Cuidado! Mesmo neste caso, especialistas apontam que usar o cartão é muito prejudicial.
Para você mesmo tirar a dúvida, faça a conta da simulação (veja quadro abaixo). Confira neste exemplo bem simples. Se você usar o “limite” de crédito de seu cartão em R$ 1.000,00 sem ter a grana para pagar esse valor, em apenas um mês sua dívida com o banco vai aumentar para R$ 1.185,30. Em apenas 60 dias, a continha original vai para absurdos R$ 1.404,93. E assim vai…
Caia fora rápido dessa bola de neve. Em um ano, a conta a pagar fica em R$ 6.690,20. Se você não gosta de juros compostos, aprenda. Ele é aplicado sobre sua dívida original de forma cumulativa. Por isso, a taxa de juros de 18,53% nos primeiros 30 dias é aplicada no segundo mês sobre o valor original mais o valor gerado com os juros do mês inicial. Isso sem contar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Mas, e se o erro do consumo imediatista ou para “socorrer” a urgência já aconteceu? Veja, rapidamente, a possibilidade de ser “socorrido” por algum familiar. Se isso não for possível, vá ao seu banco antes mesmo da fatura do cartão vencer e negocie um empréstimo pessoal com o gerente. Mas isso só vale se você tiver renda, claro.
Veja, no exemplo objetivo desta página, que o empréstimo para pagar uma dívida de R$ 1.000,00 fica em 12 parcelas de R$ 1.377,96 em um dos bons bancos da praça. Os juros são de 4,95% ao mês, contra 18,53%¨ do cartão de crédito. Neste caso, é claro, o empréstimo é alternativa para você quitar a fatura do cartão. Fica muito mais barato! Seu gerente não vai gostar. O banqueiro também não. Mas você estará bem mais aliviado.
Mas, fique claro, o ideal, necessário, urgente, é que você não caia na armadilha de adquirir dívida com cartão de crédito. Compre somente o que seu bolso suporta no mês. Fuja da agiotagem oficial do cartão. Em tempo de crise, os juros são ainda maiores na praça.
A resposta é técnica, mas possível de ser compreendida mesmo pelo leigo, aborda o economista Carlos Sette. “Os limites de crédito oferecidos no cartão dizem respeito a uma lógica do custo de captação do dinheiro no mercado (spread). O banco pega o dinheiro a uma taxa mais cara para esta finalidade e empresta esse dinheiro, acrescentando a inadimplência em alta, taxa de administração e mais os juros praticados pelo governo. Essa composição de situações torna caro o crédito do cartão”, argumenta. Spread (ou margem) é a diferença entre o valor que o banco paga para captar o dinheiro no mercado e o custo que ele empresta.
Mas é só isso? Não! Carlos Sette acrescenta que, além do custo do dinheiro que o banco pega no mercado para te emprestar a uma taxa mais elevada, há muita especulação na conta. “Os juros de 670% cobrados ao ano são escorchantes. Tem muita especulação e risco nessa conta e isso é praticado pelos bancos com muito mais força em tempos de crise, onde o desemprego está em alta, a inadimplência aumenta e o consumo cai. Como o risco aumenta para esse tipo de dívida, o banco aumenta muito os juros para essa operação”.
Para Sette, falta cultura financeira e controle de despesas no brasileiro. “Por isso tem muita gente desesperada com conta. Muitos sequer entendem que o limite do cartão de crédito é um empréstimo. É um dinheiro que não é seu. E quem empresta cobra para você devolver. O segredo básico é só gastar o que você tem e, se usar algo no limite, aperte as contas até vencer a fatura e pague tudo. Não entre no limite. Os juros vão te engolir em pouco tempo”, salienta.
Carlos Sette sugere que as empresas invistam em palestras de RH para orientar seus colaboradores, tanto na indústria quanto no comércio. “É preciso que os trabalhadores sejam capacitados a ter controle financeiro. Palestras de RH podem ajudar muito nesse sentido. É saudável para o mercado e para os trabalhadores que eles aprendam a cultura financeira do controle”, indica.
E se você caiu no limite do cartão? O que fazer? Se a dívida já foi feita, Sette sugere que, antes mesmo de vencer a fatura, o consumidor corte gastos e arrume um jeito de quitar o valor total do cartão de crédito do mês. Lembre-se: você terá apenas 30 dias a partir da compra para planejar essa solução.
Mas, se não houver saída, uma alternativa é recorrer a um empréstimo pessoal. ”Procure seu gerente e veja em quantas parcelas e em qual valor você suporta contratar empréstimo. Se for consignado (com desconto em folha), os juros são ainda menores. Certamente o valor da dívida do empréstimo pessoal será muito menor do que á cobrado pelo cartão. Nesse caso, não tenha dúvida, pegue o empréstimo e use para pagar o cartão. Mas faça isso como emergência, para não cair na roleta dos juros abusivos do cartão de crédito”, orienta o economista. (Confira o gráfico e logo abaixo mais sobre o assunto).
Receio da cilada dos juros elevados afasta consumidores atentos dos abusos do cartão de crédito e quem já caiu em dívida diz que ‘nunca mais’
“Já vi muitos amigos ‘dançarem’ com o cartão. Alguns fizeram dívidas enormes”, lembra André, que prefere pagar em dinheiro
A ordem nas ruas para quem já teve problema financeiro é “evitar o uso descontrolado do cartão de crédito de qualquer jeito”. Mas, mesmo quem não está na lista de inadimplência e não usa o “dispositivo eletrônico”, demonstra preocupação com a tentação.
O “estranho” no comportamento é que os consumidores abordados demonstram conhecer os perigos desse tipo de crédito, porém, apesar disso, a tentação e o hábito de comprar por impulso é, também, frequentemente utilizado como desculpa para justificar o endividamento.
Para alguns, entretanto, cartão nem pensar. “Nunca tive cartão. E realizo minhas operações de crédito normalmente sem ele”, afirma André Duarte, 41 anos, representante comercial. Ele conta que tem conta corrente em banco desde a adolescência. “Quando precisei parcelar algo, já paguei com cheque. Mas, em geral, eu gasto o que tenho. Cartão é um perigo e é um dinheiro que não é seu, é emprestado e custa muito caro”, adverte.
Duarte tem, em sua turma, muitos que se enroscaram com o uso do cartão. “Já vi muitos amigos ‘dançarem’ com o cartão. Alguns fizeram dívidas enormes. Quem observa aprende com os erros dos outros. E eu tive convicção que era mancada usar cartão sem ter dinheiro para pagar depois”, lembra.
Atualmente, André menciona que nem cheque utiliza. “Já comprei alguma coisa com carnê da própria loja. Que funciona bem. Cheque também não uso mais. Um talão chegava a durar um ano. Aprendi a guardar dinheiro para comprar depois algo que já planejava. A sensação no cartão de crédito tem de ser de usar algo que não é seu, que você não tem. Aí resolve”, sugere.
Elis Anjos: “O segredo é o controle e para isso tem de lançar todas as despesas em uma planilha simples”
Ela é formada em contabilidade e administração, com especialização em finanças. Para Elis Anjos, o consumidor precisa evoluir pelo básico: anotar tudo o que gasta e acompanhar todo dia de acordo com seu salário. “Eu uso planilha Excel para lançar cada despesa. Ter controle sobre os gastos é obrigação. Educação financeira deveria ser disciplina na escola desde cedo. Os pais têm de demonstrar aos filhos quanto custa cada coisa. A regra básica é, se você não tem, não compra. Cair na armadilha de usar o limite do cartão é fatal”, comenta.
Elis Anjos lança tudo na planilha. “Desde comprar fruta na feira aos débitos parcelados. Se você lança as parcelas, a própria tabela reduz o valor disponível para esse período. O segredo é o controle”, reforça.
A profissional em contabilidade e finanças sugere pesquisa para o que os bancos oferecem para o cartão de crédito. “Alguns cartões dão prêmio pela fidelidade. Eu uso um que devolve 2,5% do valor das compras com cartão em crédito para eu sacar. E o prêmio vale para crédito e débito. Tem de fazer conta. Ver se compensa. Ver sua receita e o custo da anuidade. Mas são boas opções”, levanta. Elis insiste que o consumidor deve calcular tudo. “O brasileiro não tem o hábito nem de controlar os gastos e nem a cultura de fazer contas de juros. Faz parte da minha cultura o planejamento e o controle. Se você calcular quanto custa o juro do cartão, vai fugir rápido do endividamento. Compare com outras formas de crédito”, finaliza.
A psicóloga Mauriceia Quinhoneiro orienta as pessoas a observarem quanto tempo passam pensando em consumir
Quem sente um impulso, por vezes incontrolável, de comprar, mesmo que, a rigor, não tenha necessidade, deve procurar ajuda.
A psicóloga especialista em terapia cognitiva comportamental Mauriceia Quinhoneiro pondera que quem está nessa situação está no grupo dos que sofrem transtornos. “O impulso quase incontrolável de comprar está no grupo do que chamamos de transtornos de ansiedade. Ao realizar a compra, a pessoa diz que sente uma sensação de prazer imediata e intensa. Ela diz que sente uma sensação de euforia”, comenta.
O problema é que essa euforia passa rapidamente. “E essa frustração leva a um círculo vicioso. Porque, depois, essa pessoa, frequentemente, sente a necessidade de realizar a mesma válvula de escape. E isso não se resolve. Ao contrário, gera uma dependência em relação comportamento”, cita a psicóloga.
Quinhoneiro sugere a observação. “O termômetro para a pessoa saber se precisa de ajuda é o endividamento. É preciso que a pessoa perceba quanto tempo ela consome diariamente com o tema consumo. São sinais que precisam ser observados. Ou ela fica muito tempo pesquisando pela Internet, ou vive tendo de ir ao shopping para ver vitrines e comprar. É preciso observar porque muitos não se endividam, porque têm bom poder aquisitivo. Mas cuidado, porque já adquiriram o vício de comprar repetidamente e compulsivamente”, complementa.
Mauriceia também orienta que as pessoas não julguem quem sofre de compulsão. “Não devemos julgar, porque há muitos elementos em questão. E a pessoa que sofre de compulsão por consumo, comprar, ou outra, já se sente frustrada, constrangida depois. E isso dificulta que ela procure também ajuda. Se você conhece alguém assim, oriente a procurar um profissional, que esta pessoa entenda que sofre de algo que deve ser cuidado e pode ser superado”, completa.
Fonte: Jornal Contabil - JC Net - 21.2.2016
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